9.4.09



Renascer

Temos tantos motivos para renascer…
Mas não é fácil. Na maioria das vezes é preciso morrer. Ora o que se passa é que para morrer é preciso querer. Para morrer é preciso querer e estar bem de saúde. Ninguém deve desejar morrer em fraqueza. É um erro porque pode ser que não tenhamos forças para renascer.
É claro que a passagem da fase larvar para bicho alado implica uma letargia em casulo e esse processo é esgotante no que diz respeito às energias. Temos que dispor delas antecipadamente quando decidimos matar a nossa vida larvar.

Cumpridos os requisitos da viagem, renascer é sempre bom se não se fica na estação.

Quando se renasce vem-se fraco, mas limpo e a carregar baterias.
Quando se renasce vem-se livre, com vontade mas a passo.
Quando se renasce adquire-se uma espécie de alegria que vem com a luz da manhã e traz uma mistura sempre nova de cheiros intensos.
Quando se renasce não temos nada, não queremos nada mas desejamos viver.

3 comentários:

entremares disse...

Quando se nasce...
Não temos expectativas.
Não temos ansiedades.
Não planeamos o futuro.
Não recordamos o passado.
Limitamo-nos a digerir o presente com sofreguidão.
E ainda bem, porque desde que se nasce, é esse o único tempo que se tem.
E, quando se cresce, o presente perde misteriosamente o sabor, passa a carecer sistemáticamente de aditivos, de temperos, de livros de receitas.

Quando se nasce, nasce-se sem se saber porquê.
E, bem vistas as coisas...que importância tem isso ?


Um grande abraço.

Unknown disse...

O texto de entremares sobre o nascer e o crescer sintetiza muito bem estas fases da vida humana e termina da melhor maneira. Realmente, nascemos sem saber porquê... e que importância é que isso tem?
O mesmo já não se pode dizer do(s) renascer(es), tem de facto importância, e esta pode ser enorme, vital mesmo... até no sentido físico.
Parabéns pelo teu texto, está óptimo! Não te sabia também artista e arquitecto da palavra.
A propósito de palavra, o outro que escreveste sobre as palavras «não ditas» (sobretudo), também está interessantíssimo - tendência inata para a perspectiva (?)- e fez-me lembrar um de Roland Barthes, que fixei desde o tempo da faculdade porque me impressionou. Resumidamente, ele dizia que as palavras são libertadoras, mas também fascistas. Por isso, talvez algumas sejam mais importantes quando não ditas?
Um abraço.

o passageiro disse...

Muito bem!