13.12.08



Projecto "Your text here" produzido em 2006 para uma convocatória de mail art promovida por Antonella Grota Giurleo para a biblioteca Gallaratese de Milão

12.12.08



O 4º Mágico de Santa Maria

Completamente cúbico e creme, absolutamente amplo e cheio.
Uma portas de duas folhas com bandeira de três vidros.
Uma cortina esconde outras duas portas.
Duas janelas com portadas de três folhas desiguais, sanefa e cortina.
Um lavatório de tripé com um espelho com moldura em plástico vermelho.
Um rodapé alto e castanho recebendo o encosto dos pés torneados de duas cadeiras de tampo liso, ladeando uma cómoda de colunas ao canto.
Um bidé de lata junto à cama de ferro fazendo parelha com a prateleira de vidro sustentando um copo em posição de lavado.
Um penico escondido por cortinas de nylon na mesa de cabeceira e sobre esta um candeeiro de globo em cima de um tapete de corda.
Uma mesa de pé de galo arrumada ao canto enfeitada por uma jarra de flores de plástico.
De frente para a cama um espantoso armário apenas estrutural envolvido por um cortinado multicolor.
Jarro e balde de esmalte sobre a mesa de pousar as malas, enquadrados por um espelho e três pequenos quadros com moldura de madeira e vidraça destoando de um outro apenas de tabopan pintado.
Junto à porta dois cães de loiça em tamanho natural, sentados e virados um par ao outro
alheios a uma jarra de vidro com flores plástico descansando acima deles na parede de tabique.
Um cinzeiro de vidro na outra cabeceira e sobre a cama uma imagem gravada nom pratinho de loiça.

Glória d’Outrora 14.02.88

11.12.08



ODA A LA CRÍTICA



Yo escribí cinco versos:

uno verde,

otro era un pan redondo,

el tercero una casa levantándose,

el cuarto era un anillo,

el quinto verso era

corto como un relámpago

y al escribirlo

me dejó en la razón su quemadura.


Y bien, los hombres,

las mujeres,

vinieron y tomaron

la sencilla materia,

brizna, viento, fulgor, barro, madera

y con tan poca cosaconstruyeron

paredes, pisos, sueños.

En una línea de mi poesía

secaron ropa al viento.

Comieron mis palabras,

las guardaron

junto a la cabecera,

vivieron con un verso,

con la luz que salió de mi costado.

Entonces, llegó un crítico mudo

y otro lleno de lenguas,

y otros, otros llegaron

ciegos o llenos de ojos,

elegantes algunos

como claveles con zapatos rojos,

otros estrictamente

vestidos de cadáveres,

algunos partidarios

del rey y su elevada monarquía,

otros se habían

enredado en la frente

de Marx y pataleaban en su barba,

otros eran ingleses,

sencillamente ingleses,

y entre todos

se lanzaron

con dientes y cuchillos,

con diccionarios yotras armas negras,

con citas respetables,

se lanzaron

a distupar mi pobre poesía

a las sencillas gentes

que la amaban:

y la hicieron embudos,

la enrollaron,

la sujetaron con cien alfileres,

la cubrieron con polvo de esqueleto,

la llenaron de tinta,la escupieron con suave

benignidad de gatos,

la destinaron a envolver relojes,

la protegieron y la condenaron,

le arrimaron petróleo,

le dedicaron húmedos tratados,

la cocieron con leche,

le agregaron pequeñas piedrecitas,

fueron borrándole vocales,

fueron matándole

sílabas y suspiros,

la arrugaron e hicieron

un pequeño paquete

que destinaron cuidadosamente

a sus desvanes,

a sus cementerios,

luego

se retiraron uno a uno

enfurecidos hasta la locura.

Porque no fui bastante

popular para ellos

o impregnados dedulce menosprecio

por mi ordinaria falta de tinieblas,

se retiraron

todos

y entonces,

otra vez,

junto a mi poesía

volvieron a vivir

mujeres y hombres,

de nuevo

hicieron fuego,

construyeron casas,

comieron pan,

se repartieron la luz

y en el amor unieron

relámpago y anillo.

Y ahora,

perdonadme,

señores,

que interrumpa este cuento

que les estoy contando

y me vaya a vivir

para siempre

con la gente sencilla.


Pablo Neruda




10.12.08




Poem to a beautiful glance


If you were blind,
You would have to put your hands
Over my face to see me,

And it is funny,

I still would ignore if you really see me,
And if you see how you see, and,
I still would ignore if you like what you see.

And it is funny,

I think your hands so close
Would give me anyway,
Stronger clues,
Than your distant eyes.


Omar Salgado / 2008

9.12.08


Cinema

Estou completamente adicto ao grande ecrã.
Tenho visto uma média de um filme de dois em dois dias.
Sem televisão desde Janeiro, tenho dado uso ao dvd e ao projector, auxiliados por umas simples colunas de computador, e tomando como plano de imagem apenas uma das paredes brancas.
Vejo cinema como quem janta no melhor restaurante.
Não decoro nomes de novos actores, ou novos realizadores.
Tomo nota dos nomes dos filmes com o objectivo de fixar um argumento.
Só me interessa uma boa história especialmente se é bem contada.
Uma vez por semana deixo-me levar pela selecção do Cine-Club do COC em Badajoz.
No resto da semana intercalo o aluguer no clube de vídeo com o empréstimo na Biblioteca Municipal.
Não escolho nunca novidades.

Os meus sonhos parecem o prolongamento do espírito da história visualizada, e o dia seguinte faz-me sentir ainda figurante da noite anterior.

Não quero ser um cinéfilo que exibe profundos conhecimentos da 7ª arte. É claro que quem viu perto de duzentos filmes espanhóis, e todos os outros de inúmeras nacionalidades acabará por poder conversar um pouco sobre o assunto. Mas não é nada de isso que procuro no cinema.
Alimento-me de filmes devorando-os literalmente.
Não sei o que se passa a toda a hora no mundo, mas sei o que se passou ontem com a Matilde e o Manech : MMM !!!

8.12.08



Os meus santos / O Santana

Se há mesmo outro mundo…

Não sei se existe outro mundo para além da morte, mas, nestes casos, tenho uma enorme esperança que o cepticismo cientifico que eu tantas vezes professo esteja redondamente enganado.
Cada vez que morre alguém é um património que se perde. Se esse alguém é uma pessoa fora do comum a perda é ainda maior. E, se essa pessoa se conta entre os nossos abraços sinceros da amizade a perda é irreparável.
Se há mesmo outro mundo, e é nestas alturas que desejamos que haja, resta-nos esta esperança de voltar a encontrar os que partem e fazer da memória a substituição possível da sua presença.
Amigo Santana, foste-te embora…
Estarás porventura à pesca esperando uma carpa em algum recanto de uma nuvem qualquer. Vou lembrar-me disto quando olhar para o céu.
Imagem : Estudo geométrico sobre a rosácea de Guadalupe