7.2.09


Projecto "Your text here" produzido em 2006 para uma convocatória de mail art promovida por Antonella Grota Giurleo para a biblioteca Gallaratese de Milão

6.2.09



in "Memória descritiva para o projecto da espantosa secretária de Espantoso Barbosa" Concurso CORTAL de mobiliário/1988/EB, EC, GO, PF & JK.

5.2.09



Cortar o pão


Este Natal a minha irmã deu-me uma belíssima faca eléctrica.
Quando regressei a casa fui logo experimenta-la num pedaço de broa de milho que lá tinha.
Para minha grande surpresa o pão resistiu ao apetrecho o mais que pôde e por fim, sacando do seu peculiar carácter húmido e farinhento, destruiu a minha expectativa de o transformar em pedaços planos.
Desanimado com a experiência fui-me deitar.
Não sei se por este motivo ou por acaso sonhei toda a noite com o “Shining e a cara do Jack Nicholson”.
Não tendo sido portanto uma noite descansada, tomei os meus flocos e maçãs com um ar circunspecto, e saí decidido a comprar outro tipo de pão para poder finalmente inaugurar dignamente o meu presente.
Quando me plasmei diante da estante do supermercado da secção do pão fui surpreendido com uma pilha de pão já fatiado, que eu aliás usualmente compro por uma questão prática e económica. Prática porque é só abrir e sacar uma fatia, e económica porque as fatias finas fazem render mais o pão.
Curiosamente, naquela manhã, ao olhar para aquela pilha de pão fatiado não era capaz de a dissociar do meu sonho de terror.
A verdade é que não comprei pão no momento e esperei pela tarde para me dirigir a uma padaria tradicional onde por fim arranjei um pão inteiro. Já em casa, desembrulhei-o, mas cortei-o com uma faca normal. Pareceu-me ser uma espécie de reconciliação que, respeitando um ritual, se cumpria assim tão simplesmente e em plenitude.
Lembrei-me então de algo que a minha mãe nos ensinou, quando éramos pequenos, e que hoje seria, neste mundo cheio de absurdas obsessões de higiene, um acto “politicamente” incorrecto. Cada vez que um pedaço de pão nos caia ao chão em casa, tinhamos de o apanhar e em vez de o deitar fora deveríamos beija-lo.
Lembrei-me também dos rituais de fabrico do pão sempre acompanhados de algum misticismo e respeito, alimento cujo carácter sagrado se encontra acima de qualquer outro.
Então percebi.
Provavelmente esta faca eléctrica irá ser de uma grande utilidade nas minhas próximas aventuras gastronómicas, mas não a vou usar nunca para cortar pão.
Quanto ao pão fatiado do supermercado por minha vontade não sairá da estante.

4.2.09



2038

(discar nº de telefone)
Tut, tut !
Tut, tut !
Tut, tut !
(disparo de um atendedor)
Fala do numero dois mil e trinta e tal,
Este assinante já não existe,
Morreu em 1996,
Se insiste,
Após o sinal,
Deixe a mensagem no cesto dos papeis...
Pi! Pi!
(pausa c/ periodos a passar)
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii !
(Desliger)
(pausa)
(discar nº de telefone)
(Sinal de FAX)
(pausa)

(Instrumental)

(discar nº de telefone)
Tut, tut !
Tut, tut !
Tut, tut !
(disparo de um atendedor)
Fala do numero dois mil e trinta e tal,
Este assinante já não existe,
Morreu em 1996,
Se insiste,
Após o sinal,
Deixe a mensagem no cesto dos papeis...
Pi! Pi!
Voz feminina em surdina (periodos a cair) :
ESTÁ ?...
(pausa)

(Instrumental)

(desligar do telefone)



Espantoso Barbosa/1996

3.2.09


ORA AÍ ESTÁ UM EVENTO AO VENTO

QUE EVENTUALMENTE

VALERÁ A PENA NÃO PERDER!

EU VOU!
..................................

2.2.09



Sorria! Você NÃO está a ser filmado.

Bufaria e mais bufaria, auto-bufação e avaliações bufatórias, bufocuscovilhice preventiva e presunções bufatórias.
Por todo o lado há câmaras de vigilância (“que nos defendem do crime”, dizem) e vigilantes que vigiam as câmaras de vigilância ( “e assim as defendem do crime de neutralização).
Cada dia que passa aumentam os minutos que falamos através dos microfones do mundo aos ouvidos sintonizadores, para gravadores, controlados por depuradores automáticos e classificadores implacáveis, alarmes de um mundo apavorado e letal.
A intimidade está em extinção via satélite, num pacote wireless de telemóveis, sms, chats, mails, passwords, bandas magnéticas e gps.
Invadem a nossa privacidade porque não podemos viver sem estar online.
Vasculham as nossas entranhas porque lhes abrimos vias rápidas sem portagens até ao nosso coração, pagando voluntariamente a continua gravação em directo desta ópera bufa, cujo cenário se enche de súplicas impressas onde ironicamente nos pedem para sorrir.