29.11.08



Projecto "Your text here" produzido em 2006 para uma convocatória de mail art promovida por Antonella Grota Giurleo para a biblioteca Gallaratese de Milão

28.11.08



Nunca pensei…

É espantoso que goste tanto das palavras estúpido e estupidez, e que as use com tanta frequência. Sem elas não seria capaz de deitar a língua de fora a todas as coisas estupidamente estúpidas com que me deparo. Sem elas não poderia igualmente dar-me um carolo verbal no cimo da nuca por ter chamado estupidez a tanta coisa boa.
Adoro a palavra estúpido porque não insulta, empurra, não agride, pasma, não cospe, engole, não faz troça, ri.


Hoje sinto-me estupidamente bem.

27.11.08


Nem todas as cartas de amor são ridículas.


“todo se transforma”

Tu beso se hizo calor,
luego el calor, movimiento,
luego gota de sudor
que se hizo vapor, y luego viento
que em un rincón de La Rioja
movió el aspa de un molino
mientras se pisaba el vino
que bebió tu boca roja.

Tu boca roja en lá mia,
la copa que gira en mi mano
y mientras el vino caía
supe que de algún lejano
rincón de otra galáxia,
el amor que me darias,
transformado volveria
un dia a darte las gracias.

Cada uno dá lo que recibe
y luego recibe lo que dá,
nada es mas simple,
no hay outra norma:
nada se pierde,
todo se transforma.

El vino que pague yo,
con aquel euro italiano
que había estado en un vagón
antes de estar en mi mano,
y antes de eso en Torino, en Prato,
donde hicieran mi zapato
sobre el que caeria el vino.

Zapato que en unas horas
buscaré bajo tu cama
con las luces de la aurora,
junto a tus sandálias planas
que compraste aquela vez
en Salvador de Bahia,
donde a outro diste el amor
que hoy yo te delvolveria…

Porque cada uno dá lo que recibe
y luego recibe lo que dá,
nada es mas simple,
no hay outra norma:
nada se pierde,
todo se transforma.


Jorge Drexler / Álbum ECO

26.11.08



Não há coisa mais estúpida do que sofrer por se gostar de alguém. Se gostamos de uma pessoa é porque essa pessoa merece, e, se merece não tem obrigação nenhuma de nos retribuir o que quer que seja. Já nos basta sofrer pelo contacto diário e directo com a legião de melgas que nos rodeia.

Sofrer por amar alguém talvez seja apenas amar-nos a nós próprios, a uma diarreia de prognósticos, e a felicidades preconcebidas.

Amar só se for já e da forma que for…
Pormenor da porta da matriz de Guadalupe/Espanha

25.11.08



“COMO SE FOSSE O CÉU”
“As it is in heaven”
de Kay Pollak


“Desde criança que sonhava criar música
que abrisse o coração das pessoas.
Era esse o meu sonho”



“- Quando gostamos de alguém como sabemos se a amamos?
- Ficas feliz quando a vês.
- E que mais?
- Pensas nela.
- E que mais?
- Quando gostas de alguém sentes-te feliz ao lado dela”

Ao lado? Ela disse ao lado?
Eu acho que ela quer dizer de lado. Lado a lado. Ombro com ombro.
Meticulosamente alinhados. Num movimento coordenado, cadenciado, deslizante.
Sim ao lado! Lado a lado, caminhando e conversando. Olhando de vez em quando. Parando um instante sem sair do ritmo e prosseguindo. Sem destino ou com um lugar pretexto, de preferência distante ou inatingível.

É assim que eu vejo o amor. De lado. Lado a lado. Ombro a ombro. Talvez melhor desalinhados, descontraídos, com um sopro no coração e os pés timbrando a areia.
Sim de lado! Lado a lado. Em silêncio talvez, sorrindo de vez em quando. Quebrando o ritmo com um abraço infinito e ficar aí.


“Como se fosse o céu”.


Encontrei este filme na Biblioteca Municipal. É uma história interessante e bonita, bem contada, sobre a vida de um miúdo invulgar que só poderia ter dado origem a um homem fora do comum. O resultado é uma película que põe o acento nas relações entre as pessoas em grupo e na intimidade da vida familiar.
As primeiras palavras deste texto foram retiradas dos diálogos do filme e as segundas foram escritas por mim depois de o ter visto.

24.11.08




Anti-manifesto

Eu não sei pintar,
Tu não sabes ver,
Então o que estamos aqui a fazer?...

Eu não sei desenhar,
Tu não podes entender,
Então porque queremos comunicar?...

Eu não sei escrever,
Tu não gostas de ler,
Então porque tentamos compreender?...

Eu não sei sonhar,
Tu nunca dormes,
Então porque insistimos em voar?...

Eu não sei amar,
Tu foges de mim,
Então porque construímos este lar?...

Eu não sei cantar,
Tu és surdo que nem uma porta,
Então que coisa é essa de vibrar?...

Eu não sei chorar,
Tu choras como uma Madalena,
Será que ainda vale a pena acreditar?...

Eu não sei ensinar,
Tu não apareces nas aulas,
Então como poderemos progredir?...

Eu não sei arquitectar,
Tu não queres lá viver,
Então porque é que temos que trabalhar?...

Eu não gosto de comer,
Tu: - Comer até poder!
Queres que apague as velas?...

Eu não vou beber,
Tu cansas-te de vomitar,
Os tempos não podem corresponder…

Tantos tus e tantos eus…
Isto não é um poema.
E todavia também não me parece uma exposição.
E a tí?

A mim sim. Fim!