1.2.11


JÁ QUE A VIDA É CURTA

“já que a vida é curta
e o futuro, diz que está aqui já
(sei lá)
já que o futuro vem
em peças separadas p'ra montar
(ah! ah! ah! ah!)
antes que se esgote
reserve desde já o seu exemplar”

“Sérgio Godinho” CARAMBA


Três ideias sobre o tempo….


Afinal o que é que existe, o passado, o presente ou o futuro?

Só pode ser o passado. Evidentemente.
Actos e produtos ficaram todos lá. Mas será que ainda lá estão?
Certo certo é que tudo o que tocamos agora veio do passado, seja ele próximo ou distante.
O passado é o único tempo sobre o qual se verificam teses ou pairam arrependimentos.
O passado tem uma estabilidade fotográfica, e mesmo quando contamos uma história é como se olhássemos para uma destas modernas molduras digitais que guardam fragmentos aleatoriamente organizados.

Mas haverá apenas um passado, ou será que antes pelo contrário serão em número infinito os tempos simultâneos que interagem entre si?

Neste caso então, pensando bem, o que existe realmente é o presente. É aqui que agarramos o efémero e lhe conferimos vida, cor, temperatura, cheiro, gosto, toque, materialização ou sublimação. É no presente que transformamos os “por fazer” em “em curso” e, simultaneamente, esperamos pelo arrefecimento do “produto acabado”.

Mas será o presente um único tempo, ou cada um respira o seu? À minha volta entram e saem figurantes que quando não fazem parte do meu jogo fazem de outro que jogam sempre, o seu. Pois é, na verdade há infinitos presentes a esvaírem-se autonomamente.

Afinal será que o que existe é o futuro? De lá é que nos hão-de vir as estradas para caminhar e as sombras para descansar. Quando fazemos algo é para que esse algo surja no minuto seguinte, para o ano que vem ou um dia quem sabe… Fazemos tudo para que o futuro aconteça.

Mas será que poderíamos escolher futuros diferentes?

Parece por vezes que olhando o futuro estamos a incendiar o presente e a deixar marcas no imaginário do passado; que olhando o presente estamos apenas a olhar para nós; e que olhando o passado nos esquecemos que existimos.

Não obstante, e porque não será a tomada de consciência de qualquer dos casos que evitará que assim suceda, poderemos felizmente concluir que, passado, presente e futuro, tanto nos faz que existam três, apenas um, nenhum deles ou apenas nós, porque afinal aquilo que nos move não são os tempos classificados e medidos, mas antes esta continuidade que nos permite alternar entre teimosos sobreviventes e deslumbrados crentes.

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