12.7.09



Super heróis

Que mérito há em atravessar paredes?
Que glórias se exibem em voar, ser elástico, ter teias projectactes, visão telescópica ou automóveis à prova de tudo?
Que grandeza se bebe nas poções mágicas, anéis protectores ou latas de espinafres?
Que orgulho se pode ter em ser imortal?
Ter poderes não é ser herói, muito menos ser super herói. Antes pelo contrário. Em Aljubarrota os heróis não tinham poderes e ganharam.

De todo o modo, e só para que fique claro, os heróis nunca tem a vitória assegurada por nomes fantásticos, clubes de fans, finais felizes ou próximos capítulos.
Os heróis não são coisas raras.
Os heróis são mortais e batíveis e a única coisa que os distingue é a coragem.

Super heróis são todas as mulheres que se envolveram, sem pedir, num confronto directo com o cancro da mama. Todas as que venceram e todas as que não.

Super heróis são os professores que lutam para fazer aprender quaisquer que sejam os seus alunos, quaisquer que sejam as condições ou as quantidades, ou qualquer que seja a distância a que se encontram de casa.

Super heróis são os taxistas que fazem de cada viagem uma aventura no desconhecido para nos deslocarem no tempo entre lugares que fazemos ponte.

Super heróis são os médicos que todos os dias cumprem dezenas de actos médicos para os quais é repetidamente necessário descodificar falsos sintomas paranóias e aflições.

Super heróis são os caixas dos supermercados que aos centenas de bons dias tem que juntar concentração no cálculo sorridente e prevenido.

Super heróis são os pescadores que desafiam a inclemência dos fluidos numa faina desproporcionada e traiçoeira. São também super heróis as suas famílias cuja oração solidária os trás de volta todos os dias. Ou não…

Super heróis são as pessoas que limpam, arrumam, dobram e aspiram o pó dos outros e que depois o levam para casa para o jantar.

Super heróis são os que dormem na rua arriscando não recusar a recusa que o mundo lhes oferece.

Super heróis são os pais que se privam do descanso e se derretem no prazer de salvaguardar o crescimento inteligente, saudável e em liberdade dos seus filhos.

Super heróis são os que lutam contra a infâmia e a tirania arriscando a vida na palavra esgrimida.

Super heróis são os que perdoam, os que mudam, os que amam sempre, os que partilham, os que acolhem.

Super heróis são os que se arriscam a perder os dedos porque fazem tudo com duas mãos como se tivessem quatro.


5 comentários:

entremares disse...

Os maiores heróis, sabes?... são os heróis anónimos, aqueles que tudo fazem longe das luzes da ribalta...

Como um certo dizer que reza mais ou menos assim:

" Que a tua mão esquerda não saiba o que a direita dá."

Um abraço.
Rolando

Anónimo disse...

Belo exercício de escrita.Parabéns
para o autor.


Visite o Blog :-

http://yalbas.blogspot.com/

Anónimo disse...

Querido amigo, aqui tens mais um belo texto de ideias que tanto identifico contigo. Há algum tempo que aqui não vinha e é bom voltar a encontrar as tuas palavras.
Grande abraço,
Luis

Anónimo disse...

Escrevi um comentário que me pareceu tão 'jeitoso' e perdi-o!...
Falta de prática, está visto.
A foto está magnífica. Os super-heróis... andam por aí imensos. Uns são, outros nem tanto, mas só se conseguem distinguir mesmo com uns óculos especiais; regra geral não se descobrem assim a olho nu, não é?
Um abraço da São.

Nobre (Zé) disse...

Muito bem dito, continue assim.

um grande abraço José Nobre.