24.3.09



Obsessivamente prognosticados

Vivemos tempos de um mundo exageradamente antecipativo. Não nos basta conhecer os ciclos, da água, das estacões do ano, da gestação, etc. Queremos prever tudo, antecipar cenários, desvendar todos os futuros.
Acabou a história da surpresa do nascimento.
Acabou o prazer de um bom jogo de futebol.
Antecipamos repetidamente, com base em inquéritos e estatísticas, todos os resultados e depois culpamos alguém ou algo de não ter assim sucedido. Tomamos os momentos reais como algo aberrante que não devia ter sucedido ao ponto de quase o ignorarmos e passamos semanas a divagar sobre o que estava previsto acrescentando dezenas de explicações e desculpas.
Não nos basta prever o tempo, queremos decidi-lo.
Não nos basta as agruras da vida, queremos prognosticar no futuro todas as variantes, fazendo da mais desgraçada conjuntura a mais provável fatal confirmação.
Queremos ver filmes que já sabemos como acabam ou cujo final é votado pela audiência. Mesmo assim deleitamo-nos, alimentando mais este nosso egocentrismo. Ou será egoísmo?
Desiludimo-nos com todas as ofertas que nos fazem pois só apreciamos as que pedimos.
Por fim trocamos a nossa vida pela dos outros, via cabo, para que o imponderável não seja para nós qualquer risco.
Não será por acaso que a astrologia está na moda, logo agora que a astronomia está cada vez mais exacta.
As religiões dão-nos um sentido para a morte e a leitura dos astros explica a vida num pacote dado em sortes. Bem sei que o materialismo é a coisa mais abstracta e imaginária que inventamos e que Deus é indefinível (graças a Deus). Mas este jogo que estamos a jogar é para ir a jogo, não para simular ou assistir.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei cá a pensar...
Já imaginaste se um dia nos arranjam um cartão, cheio de chips, algoritmos, bioritmos e mais coisas terminadas em itmos, que comece a piscar ( assim como os semáforos ) primeiro no verde, depois no laranja e finalmente no vermelho, a avisar de que estamos prestes a ir comer as couves pela raíz ?

E claro, logo a seguir arranjam uma brigada militarizada para convencer os vermelhos que não podem voltar a ser laranjas e que têm que... claro está, ir comer as couves...

Já me estou a sentir assim um bocado a alaranjar...

( Filme: The Logan´s run - 1976, com Michael York, lembras-te ? )