17.2.09



O primeiro direito

Que fique bem claro. Nunca escrevo para os outros. A escrita é para mim um passeio solitário que atravessa o papel deixando uma baba de ideias onde me confesso. Por isso, escrevo sempre ao correr da pena, e, como tal, nunca sei como vai acabar a frase que estou a escrever.
Escrevo para tentar entender-me, e ampliar a liberdade de preservar um nódulo que dentro de mim tenta resistir aos embrulhos que o comportamento social nos impõe.
Creio que há um lugar dentro de nós onde ninguém consegue entrar que, qualquer que seja a nossa história, resguarda uma identidade imutável que faz de nós esta pessoa.
Estes são os lugares que os senhores deste mundo mais temem, de onde a moralidade procura por todos os meios manter-nos ausentes.
Para alguns é a alma, para outros o “ferro” astral. Para mim é uma privacidade viva escondida ao fundo de um beco visceral.
A escrita é para mim uma espécie de álbum de fotos desse lugar e um inventário dos meus queridos desastres somados. É como se fosse algo que sendo verdadeiramente meu me dá o direito pleno de a emprestar, dar ou trocar.
A escrita é para mim também um lugar que espera por mim todos os dias, aconteça o que acontecer. Posso descreve-la como uma espécie de banco de jardim onde sempre vou quando me sinto só, triste, realizado, cansado ou com vontade de fazer um intervalo.
Com a escrita não desejo este mundo que não é meu nem de ninguém.
Quero apenas o meu banco de jardim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais vale um banco de jardim, que um lindo jardim lá fora sem bancos. Os bancos onde nos encontramos é o que faz a verdadeira beleza desse jardim. Quanto mais escreveres mais bancos aparecerão e com eles mais e mais explendorosos jardins se criarão. Que poética q. me fizeste ser, vês, também eu me encontro na escrita. Para mim é muito mais que um desabafo, é uma necessidade vital de me entender e de tomar consciência desta tão complicada vida...

o passageiro disse...

Gosto mais de M.A.
Gosto do M
Gosto dos As