22.12.08



ESTACIONAMENTO

Paras o carro
Num parque desconhecido.
Apagas as luzes,
Desligas o rádio,
Tiras o cinto e corres o s vidros,
Mas esqueceste-te de trancar o carro.

Olhas em volta,
E não reconheces a estrada onde seguias.
Toda a cidade está às escuras
Mas escutas um som novo
Que rasga a atmosfera
Vindo de um beco contorcido.

Diriges-te pelos ouvidos
Mas só encontras muros
Que tateias com as luvas calçadas,
E, nem sentes que a parede se dobra de repente
Estatelando os teus costados
No lajeado de um pátio árabe.

Abres os olhos,
Cego pelo luar repentino,
E ainda consegues ver três vultos de matracas na mão.
Pestanejas e já não há vivalma
A não ser aquele assobio
Trauteando uma melodia familiar.

Finalmente a porta de um bar.
Luz amarela e fraca.
Dois gémeos ao balcão.
Ninguém à porta, ninguém lá dentro,
Mas não consegues entrar
Porque os clientes não param de sair.

Meia volta,
Rodopiando sobre o tacão direito,
Dás com o cotovelo
No retrovisor do teu carro.
Vidros abertos e rádio no máximo,
Mas não encontras as chaves…


Possidónio Fantasma / 1996

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